sábado, 22 de dezembro de 2007

Escolheremos, pois, o Amor


Mensagens de Natal são sempre singelas, sempre lindas e repletas de lugares comuns. Escrever sobre Natal e Ano Novo é chover no molhado, ou simplesmente cansar mais um pouco quem já ouviu falar sobre o espírito natalino o dia inteiro no centro da cidade.


Neste natal desejo apenas que o amor prevaleça; que não esqueçamos que somos seres humanos; que um abraço vale sim mais que um presente; que deve-se alimentar bem o corpo e a alma; que devemos lembrar de quem está longe e manifestar cuidado por quem se aproxima.


E, se Shakespeare me permite, um de seus sonetos para inspirar e respirar melhor de 2008 em diante...


Que eu não veja empecilhos na sincera

União de duas almas. Não amor

É o que encontrando alterações se altera

Ou diminui se o atinge o desamor.

Oh, não! amor é ponto assaz constante

Que ileso os bravos temporais defronta.

É a estrela guia do baixel errante,

De brilho certo, mas valor sem conta.

O Amor não é jogral do Tempo, embora

Em seu declínio os lábios nos entorte.

O Amor não muda com o dia e a hora,

Mas persevera ao limiar da Morte.

E, se se prova que num erro estou,

Nunca fiz versos nem jamais se amou.


William Shakespeare

domingo, 16 de dezembro de 2007

Poetisas

Hoje eu queria criar uma poesia, mas daí saiu uma crônica. Vida de poetisa frustrada é essa: deságua tudo em dissertação e que viva o pensamento contínuo, sem mistério, mas que guarda segredos muito bem guardados nas entrelinhas. A caneta prende a respiração. As horas esperam ansiosas por uma revolução. Dias e dias de silêncio me fazem querer gritar, mas poetisa não grita, poetisa rima. Eu nunca fiz poema de rima, até tentei, mas não saiu dentro dos meus padrões, então resolvi jogar tudo p’ro alto e ver no que dava. Deu em nada. O silêncio continuou e a madrugada acabou.
Eu sempre quis escrever uma prosa, um romance, um soneto, um épico e um didático e vou continuar querendo até o dia em que eu resolver começar, até quando a poetisa frustrada que existe dentro de mim tornar suas utopias fatos.
Sorrio, porque a música me leva agora, não sei p’ra onde, mas eu estou indo. Parece o Cazuza dizendo: vida louca, vida breve. Já que eu não posso te levar, quero que você me leve! Som ritmado, concebido numa hora que ele jamais pôde recordar. Acho que o meu maior erro é manter-me bem de corpo, é não machucá-lo com algo que faria bem p’ra minha mente. Mas me condeno, porque a minha maior tortura está no sofrer do pensamento. Posso chegar à exaustão do salto alto às cinco horas da manhã, mas minhas idéias discorrem sobre o passado até que os olhos se fechem e digam fim p’ra toda a bagunça que eu arrumei.
Sim, eu sou desarrumada mesmo. Eu não tenho a boca da Angelina e o 1,20m de perna da Ana, mas eu sei pensar, e como sei! Chegar a uma boa decisão é o que tem de mais difícil. Talvez seja por isso que a poesia não me conduza e a boa e velha crônica me desperte a amizade das horas incertas toda vez que eu preciso ficar acordada e, assim, sonhar um pouco com as coisas que ainda vão acontecer...

domingo, 9 de dezembro de 2007

19*

Perdi 10 em 19 amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Embriaguei morrendo 19 vezes
Estou aprendendo a viver sem você
Já que você não me quer mais

Passei 19 meses num navio
E 19 dias na prisão
E aos 19 com o retorno de saturno
Decidi começar a viver
Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar e a pedir perdão

E 19 anjos nos saudaram
E tive 19 amigos outra vez...


*Releitura da obra de Renato Russo... "Vinte e Nove", quando ele escrevia para a Legião.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Duas vezes Porto Alegre


Porto Alegre ainda está muito viva dentro de mim. As lembranças recentes e a folha pautada em branco me atormentam. É uma eterna tempestade que se instala agora, um furor contínuo que me desperta e descansa. Contraste.
Contraste foi a minha primeira impressão da capital há exatos dois meses, quando voltei da minha primeira viagem. Um contraste estranhamente harmônico é claro, mas algo que me transcendeu o pensamento.
Prefiro evitar comparações entre a primeira viagem e esta que tentarei retratar por agora, mesmo que eu sinta não ter conseguido escrever sobre ela durante a viagem de volta. Porém, sei que certamente a segunda impressão haverá de chegar um dia.
Resumir é difícil. Fazer resenha é pior ainda. Narrar tornaria a história um tanto factível, todavia sem a devida análise de símbolo. Vou simplesmente contar o que guardei.

A gente gosta de pessoas, a gente gosta dos nossos bens materiais, a gente gosta de conversar. Eu gosto de conhecer, de viajar. Eu gosto de analisar Porto Alegre, a cidade que pelos contrastes gritantes me cativou o pensamento. Eu tinha vários motivos para voltar ainda este ano, só não havia dinheiro para tal investimento. Às vezes o acaso é meu amigo e, então, dessa vez ele me levou a Porto Alegre para participar do VIII Seminário Internacional sobre Agroecologia e IX Seminário Estadual sobre Agroecologia, a convite da Emater Regional. Era a perfeição que se concretizava: meu tema de estudo, meu empenho e meu lugar.
Saímos de Erechim por volta das duas horas do dia 19 de novembro último. Eu e mais quatro colegas da faculdade de Tecnologia em Meio Ambiente acompanhamos um grupo de funcionários da Emater. Fomos recolhendo gente pelo caminho, Getúlio, Coxilha e Passo Fundo e o ônibus foi lotando. Ouvi Renato Russo quase que por toda a viagem, além da gaita e violão do grupinho animado da frente do ônibus – note-se, não estavam no fundo e sim nas primeiras poltronas!
Chegamos em Porto ao pôr do Sol no Guaíba. Via-se os rasgos vermelhos no horizonte do rio. Beirava às nove horas quando desembarcamos em frente ao Mosteiro de Capuchinhos, que nos acolheria como filhos pelos próximos três dias. Minhas colegas e eu estávamos exaustas, mas ainda jantamos antes de descobrir que havia sala de internet e quartos maravilhosos no lugar, além dos móveis de época e pátios enormes.

Acordamos às sete horas da manhã do dia seguinte, não absolutamente prontas para tudo que o dia nos traria, mas preparadas para a maratona de palestras no Teatro Dante Barone da Assembléia Legislativa de Porto Alegre.
Eu vi o céu azul de Porto Alegre. Eu via as casinhas simples, os monumentos das avenidas, os prédios de arquitetura moderna dividindo o espaço das ruas estreitas com “os das antigas”. Eu via diversidade de gente.
Era calor, mas o teatro tinha ar condicionado e luz baixa. O sono bateu na solenidade de abertura do evento. Tudo bem, a palestra inicial foi interessante, do ponto de vista de que não se deve ficar em cima do muro perante as questões ambientais, mesmo que as atitudes gerem polêmica.
Demorava-se cerca de trinta minutos de viagem entre a Assembléia e o mosteiro, mas ainda assim fazíamos quatro vezes por dia este trajeto. Achei dispendioso ambientalmente (mais carbono na atmosfera), mas vantajoso economicamente (sobrou dinheiro, pois não precisamos pagar para comer). E então, você escolheria qual alternativa? Mesmo que não acreditem, eu ficaria com a opção de almoçar lá por perto mesmo, mas se o fizesse, o faria sozinha.
Muito bem. Voltamos ao teatro atrasados por causa do almoço no mosteiro. A primeira meia palestra foi excelente. Não ficamos na segunda porque a palestrante era da Espanha e só ablava spañol. Não conseguimos compreendê-la e resolvemos sair mais cedo e passear um pouco.

Recordo “Duas vezes Porto Alegre” porque além de ser meu segundo texto sobre a cidade, senti que o deveria escrever em duas etapas. Logo na volta e agora, pois a gente sempre tem dúvidas...Se se deve continuar pelo mesmo caminho a passos largos ou parar, descansar, refletir e ensaiar uma nova continuidade. Eu escolhi pensar um pouco. Assim como nos dias em que estive em Porto pela segunda vez, eu escolhi pensar em meio a correria para ter certeza dos meus objetivos.

Naquela meia tarde que tínhamos antes de voltar ao mosteiro, atravessamos o shopping Rua da Praia e entramos na Rua da Praia p’ra ver o que havia de bom e barato por lá que Erechim não possuía. Cavouquei as lojas em busca do meu vestidinho roxo e não o encontrei. Optei então por acompanhar minhas colegas na aventura pelo consumismo contido delas, mas acabei não comprando nada. Perto das cinco, voltamos ao teatro Dante Barone, na Assembléia, para ouvir a última palestra, mas acabamos nos aboletando na praça do Três Poderes para esperar o pessoal da Emater e voltar ao mosteiro dos capuchinhos.
Mais meia hora de viagem e acabei por ouvir que os melhores perfumes ou as “melhores essências” estão nos menores frascos. Algumas respostas são inevitáveis na nossa vida, mas para cada escolha que fizemos devemos renunciar a outras.
Descrever o restante da viagem seria difícil em meio a imensidão de acontecimentos, mas transformar metáfora em eufemismo é extremamente simples quando aprendemos com nossas ações e descobrimos coisas sobre nós que nem imaginamos que fossem possíveis de existir dentro da gente.

Na quarta-feira eu também assisti palestras. Comprei um colar roxo, já que o meu vestido não existia; admirei as paisagens como se quisesse tirar fotos de cada uma delas; tirei fotos inesquecíveis e fiz parte da vida das minhas colegas como se fossemos irmãs. Dizem que os amigos são a família que nos permitiram escolher. Dizem, também, que os amores vêm e vão, como tardes de verão. Muitas pessoas são difíceis de serem retratadas justamente porque ficam de maneira única no coração da gente, mesmo que nunca mais voltemos a vê-las. No mosteiro teve festa na terça e na quarta de noite; tinha violão, gaita e quase 50 vozes embalando o fundo das conversas jovens no jardim da frente do mosteiro. Teve até internet que me serviu para quase nada. E eu só consegui sonhar de olhos abertos...

Na quinta-feira o clima era de alívio e tristeza. Estávamos voltando para casa, mas poderíamos ficar ali a vida toda que eu não me importaria. A gente não foi p’ra shopping e nem saiu p’ra balada. Assistimos a uma palestra inteira em spañol sobre a Pegada Ecológica e não dormimos! Demos risada até perder o fôlego e mandarem a gente ficar quieto. Estávamos mesmo a fim de fazer algo pelo mundo depois daqueles dias, e não desistimos! Embarcamos às dezessete horas rumo a Erechim. E se pode comparar essa volta com praticamente uma vida inteira. Teve sono, sonho, risada, festa, notícias ruins, notícias boas, humanidade, apoio, conversa, silêncio, jantar, ironias, piadas, histórias de vida, planos para o seminário do ano que vem, harmonia e esperança. Praticamente tudo que é fundamental para se viver consciente e com a alegria de saber acreditar no futuro, o no futuro melhor para todos que passarem pelo mesmo caminho que agora percorremos.

domingo, 25 de novembro de 2007

TEMPO



Falta tempo
P'ra fazer comida
P'ra andar sem pressa

Falta
Faz falta a falta de sentir falta
Falta faz o tempo
Que agora não distrai

Falta tempo
Escrever sobre Porto Alegre
Acreditar que acontece
Que tudo me move quando permanece

Faz falta
A falta que você já não me faz

domingo, 11 de novembro de 2007

O Contexto do Sistema


Nunca me atrevi a escrever sobre isso, embora tenha refletido sobre este assunto muito além dos debates em sala de aula no ensino médio e em conversas propositais.
Drogas, entorpecentes, alucinógenos, estimulantes, ilícitos, proibidos, seja lá o nome que se dê a isso. Por que escrever sobre elas se eu não as consumo? Por que insistir nesse debate se tenho certeza que não preciso de nenhuma dessas substâncias p’ra sobreviver?
Acredito que seja justamente por este motivo que deveríamos dar mais atenção a este assunto, uma vez que entre os meus ideais não existe a vontade de consumir esse produto, mesmo que meus amigos usem, mesmo que meus maiores ídolos o tenham feito. Eu observo o contexto de suas vidas e digo não a esta parte do exemplo, pois tenho bem claro o final de suas histórias.
A sociedade é vitima de um sistema corrompido. Isto é fato. Confesso que este me é um raciocínio recente e que necessita de várias outras reflexões até que eu alcance uma consideração final, mas não pretendo me ater a isso, pelo menos por enquanto.
Acredito que o que chamamos de “sociedade” seja naturalmente hipócrita em certos sentidos, porém contesto o fato de que sejamos totalmente cegos, mas sim que enxergamos somente aquilo que queremos ver, que nos é conveniente e não corrompe nossos atos e palavras. Só nos resta saber agora se a hipocrisia é fruto do sistema ou se escolhemos estar dentro dele e, por conseqüência, a hipocrisia se torna intrínseca.
Nunca me atrevi a escrever sobre isso porque tenho medo, assim como muitos também têm. Eu não moro na favela, mas sei que Erechim tem favela. Não gostaria de ser chamada de burguesa só porque moro num lugar diferente. O que me assusta é saber que a divisão é natural, é cadente e não é nada recente. Eu tenho consciência, mas não posso fazer nada por eles. Ou posso?
O sistema, onde nós fomos inseridos logo antes de nascer (sim, pois mesmo antes de você ter nascido seus pais pensaram ou não em lhe ter), é restritivo, é hierárquico e não atende a todos da mesma forma. Existe gente que vende porque existe gente que compra. Quem compra possui o dinheiro para aquele que vende, porque este também precisa comprar.
Confesso que deixei de ir a festas. Em parte por não ter dinheiro, ou melhor, por precisar dele para coisas mais importantes, mas também porque não consigo ficar tranqüila e feliz sabendo que a maioria das pessoas ao meu redor está “feliz” porque bebeu ou fumou maconha. Confesso que tenho medo.
Pergunto-me qual é a solução, e do ponto de vista do contexto social que as drogas geram, estampa-se na cara o jeito simples de acabar com isso: não começando.
Não pretendo ensaiar um discurso sobre “todas as coisas boas da vida que não incluam usar drogas”. Não sou a burguesa politicamente correta. Não faço e não faria este papel. Sou honesta o suficiente para dizer que faço o mínimo para que o sistema termine. Eu digo não. Eu digo NÃO porque acima desse tipo de consumo existe gente precisando de ajuda.
* Na imagem acima: criança de Serra Leoa, de arma na mão.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Arabescos da noite que não quer terminar

Eu poderia passar mais esta noite acordada, tentando encontrar nas minúcias dos meus passos os erros que cometi. Eu poderia perder o sono, buscando entender se o que faço é simplesmente o que dá pra fazer ou se é realmente o meu melhor, o meu ser integro e intrínseco.

Meus rascunhos revelam mais sobre mim do que a caneta tinteiro dos dias especiais...

Esta noite o meu presente é a inspiração prometida nas coisas em que eu botei “tamanha fé a ponto de transportar montanhas” e que deram errado. Eu olho as fotos no computador, eu escuto a música, rabisco... A vida passa assim como um filme e é como se nem minha ela fosse.

Eu poderia passar a noite pensando nas coisas que não aconteceram, nos arrependimentos e nos desejos contidos. Eu poderia...

Eu poderia continuar meus dias devaneando sobre as minhas saudades, sobre a saudade que sinto do meu futuro. Ora, eu o planejei tanto para virar isso?

Eu sonhei, eu imaginei e construí o meu caminho incerto sobre oportunidades dispersas. Fiz meus teatros, confeccionei a minha realidade sem perguntar se ela fazia parte da realidade do mundo ou se foi apenas uma ilusão.

Eu poderia não dormir e continuar imaginando você dizendo idiotices no meu ouvido, ou sentir arrepios só de ter certeza que você pensa em mim. Eu não dormiria se o meu devaneio trouxesse teu perfume p’ra mais perto dos meus sonhos, se eu ainda pudesse lembrar como é lhe ter por perto. Eu não dormiria se pudesse simplesmente lhe ouvir por telefone...

No entanto, não tenho mais sono. Penso em como você está, se conseguiu estudar como deveria, se deu pra sorrir, se não passou frio...Eu perco o sono por desejar boa sorte as nossas vidas, mesmo separadas. Eu perco o sono por lembrar que não existimos mais, que fomos separados pela distância e pela falta de algo raro, por falta de amor estou perdendo meu sono...

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

INSPIRAÇÃO

Estou sem idéias
Meu corpo pede descanso
Minha mente, enquanto isso, desperta...


Paisagem

O pôr do Sol que bate na face oculta dos prédios. Como poderia descrever-te, tão docemente quanto o ar que me invade, inspiração?
Non J’e Ne Regrette Rien, como já disse o poeta. Esta então deve ser a tua verdadeira face, que se assemelha ao belo sem preço que tenho na soleira dos meus olhos neste momento.
Não arrepender-se. Não conformar-se. Tudo deve valer a pena se nossas almas tiverem o dom da grandeza e a genialidade do espírito.
Céu. Nuvem. Árvore. Pintura que meu pai gravou no ar. Não há preço que se pague, mas haverá aqueles que ganham, assim como os que perdem com tal empresa.
Cor. Verde. Sabor. Ambas sem definições, mas temidas e procuradas como só elas. Paisagem e inspiração. Esta, mistério; a outra, contemplação.
Não há um só movimento, todavia o elo de exaltação e tempestade se instalam provocando o olhar e a mente.
Qual será o mistério? Talvez a Lua diga, descansada e rotineira: Non J’e Ne Regrette Rien, todos os dias ao seu amado astro, que se vai com o despertar da estrela.

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Como poderiamos descrever-te, tão docemente quanto o ar que nos invade, inspiração?

As portas estão abertas! Crie a sua própria definição...

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

UTOPIA


Nunca senti tanto amor por escrever como sinto neste momento. Mesmo que eu ainda não entenda perfeitamente o que é o amor, posso afirmar que o que faço reclama pela minha atenção a todo tempo, mais minha atenção às coisas que me afeiçoam e afetam de alguma forma é rara. Às vezes me sinto escrava de devaneios infundados e me esqueço dos meus sonhos. Fecho meus olhos e mergulho na imensidão do pensamento e da ilusão. Esqueço dos meus sonhos.

Estou sentindo amor pelo que faço não por ter participado de um evento literário, não por ter visto tantas pessoas felizes com a leitura. Estou amando este instante único e efêmero, pois ele é quem sustenta meus poucos traços individuais. O ato de escrever me situa e me inebria. Faz de mim quem realmente sou. Aprisiona-me em questionamentos, porém leva-me a libertar, incondicionalmente, as minhas hipóteses.

Estou acordada e sem sono. Olho para minhas obras inacabadas, para o fim de tudo que ainda não começou. Percebo e penso em tudo que aconteceu. Talvez tenha sido um erro gravíssimo, talvez amanhã eu nem me lembre. Se hoje estou vendo em parte, um dia verei face a face.

Escrever me questiona: Por que erramos? Por onde devo andar daqui pra frente? Haverá coragem suficiente para olhar para trás e não se arrepender? Escrever me inebria: Sempre em frente, você não pode perder nada. Escrever me sustenta: Sempre há por onde andar, mesmo que você não saiba ainda onde quer chegar. Se você errou, não foi a primeira nem a última vez. Nunca erra apenas aquele que nunca faz.

Escrever me faz pensar. Mas este meu pensar nem sempre me faz agir. E esse agir, quando acontece, acontece como se às avessas. Erico Verissimo dizia que grande parte do que escrevia não se identificava com os seus pensamentos. Gladstone Osório Mársico disse que escrever é como subir em um telhado de feno, pois “poucos chegam na cumeeira sem derrubar a casa”. Viver, em meu amplo sentido, se configura nesses moldes. E é interessante perceber que os acontecimentos não planejados geralmente me trazem mais alegria do que aqueles pelos quais esperei. Então, qual é o real sentido de se sonhar? Eu sei a resposta. Você sabe a resposta. Todos nós concordamos que são eles que nos levam a enfrentar os obstáculos com mais ardor. Não estou falando de desejos, estou falando de sonhos. Desejos são manifestações imediatas, suprimidos acabam por não existir. Sonhos são todas as coisas que amamos sem precisar ter, mesmo que sejam as nossas mais infundadas utopias.

Escrever, para mim, é isso: um mar de passado que nos projeta ao futuro, assim como viemos ao mundo. Um rito de passagem que está entre o que fomos e o que ousaremos ser.

sábado, 20 de outubro de 2007

HIPOCRISIA

A sociedade é naturalmente hipócrita. Não entendo porque lutamos tanto pela inclusão social se pequenas diferenças, sejam elas de pensamento ou até mesmo de insegurança, já nos fazem temer o pior. Não entendo porque luto tanto pela inclusão social se meu maior desejo é encontrar alguém com quem eu me identifique, que seja em algum momento semelhante a mim.

Eu sou naturalmente hipócrita porque, num dos meus mais rasos argumentos, não consigo amar o que não entendo. Eu sou naturalmente hipócrita porque escondo não só dos outros, mas também de mim os meus verdadeiros anseios, escondo de mim os meus desejos e os ofusco com o brilho eterno de uma mente sem lembranças ruins, ou que prefere não cultivá-las.

Quero muito acreditar que dias melhores não demoram a chegar, que na verdade estão mais perto do que imagino. Quero muito continuar escrevendo sobre as coisas boas da vida, mas ao mesmo tempo que sorrio me culpo, pois sei que existe alguém que chora. E isso me dói, porque às vezes eu esqueço de mim e trabalho para que as pessoas que eu mais amo sejam felizes. Eu ultrapasso minhas crenças e escuto, mesmo que a felicidade delas não chegue nem perto de me ser um benefício. E então me calo.

Eu canto e idolatro os poemas de Renato Russo, pois seu tom de voz me é surreal. Contudo, tenho plena consciência dos erros que ele cometeu. Eu transcrevo versos de Cazuza, pois a bandeira que um dia foi dele hoje é também uma das minhas, mesmo sabendo de toda a sua história. Não me adianta afirmar que todos os poetas foram boêmios, depressivos e rebeldes, pois eu não consigo ser assim e sou poeta. Portanto, hipócrita.

A hipocrisia é um mal que tentamos ao máximo evitar, mas é intrínseco e faz parte. Uma verdade pode vir a contestar outra e tudo, no fim das contas, é contraditório mesmo sendo belo. Tudo, no fim das contas, é desigual e atinge as pessoas. Fere. Machuca. Deixa cicatriz. Enquanto faz gozar a outras. Enquanto uns sentam a mesa, outros não têm pão para comer. E então o que mais se pode fazer?

Luto pelo pensamento sistêmico, mas divido a minha vida em capítulos, separo meus grupos de amigos. Quero o desenvolvimento sustentável, mesmo sabendo que a contra-maré é imensamente maior do que eu. Tsunami.

Enquanto isso se vive em meio a contrastes cada vez mais nítidos, cada vez mais tocantes. O que era obscuro e proibido passou a ser normal. Vamos celebrar o que é normal? Mas o que é assim tão normal a ponto de ser celebrado? Quem é o verdadeiro cidadão modelo? Quem foi que disse que ele existe?

Nossa sociedade, embora não exista além da sua forma abstrata, cultiva pensamentos que ninguém que eu conheça afirma ter. A própria sociedade se deturpa, se culpa, mas não faz nada para mudar. E eu já não quero mais ter de me virar em argumentos para buscar a explicação desse todo que, incondicionalmente, ninguém consegue explicar, porém não há quem não entenda porque tem de ser assim.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa...

Amor. Está se devendo muito a esse sentimento ultimamente. Falo não porque talvez a humanidade já não saiba mais ou tenha até perdido a capacidade de amar, mas sim pelo fato de que eu, como ser humano, tenho a necessidade natural de me igualar aos meus semelhantes e, portanto, compreenda os meus problemas como problemas que pertencem também a minha sociedade, ou àquela que eu acredito estar inserida.

Há várias manifestações do amor por aí. Porém não existe ainda uma definição sobre o que realmente ele representa para quem o sente. Não existem fórmulas para se saber exatamente quando e como o sentimos, porque o amor é um sentimento amorfo. Você pode considerar um abraço como uma forma de amor. Outros pensam que o sexo é a sua manifestação máxima. Mas ninguém sabe descrevê-lo enquanto sentimento.

Deve-se muito ao amor, pois hoje se abandonam mentes na escuridão das sensações e se delimita o uso da emoção quando se fala em perceber e admitir o que se sente. Somos alma, mas não sabemos reconhecer a pureza deste sentimento e temos medo de mergulhar, de se envolver, por medo de perder justamente essa pureza que nos levou a amar.

Não sei dizer se já amei. O amor é muito mais do que a nossa vã filosofia pode crer que exista entre o céu e a Terra. Mas posso aceitar que já cuidei de muita gente, que já percebi o quanto eram importantes para mim. O amor é fogo que arde sem se ver. Posso aceitar que já quis ter para mim alguém que pertencia ao mundo, assim como eu. E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?

Hoje, eu guardo afeição pelas coisas que faço, pelos lugares que freqüento e pelas pessoas com as quais convivo. Eu amo a maioria do meu tempo e espero ser amada por todos aqueles que convivem comigo. Como o amor não possui definição, simplesmente amo. Mas há uma pessoa. Uma pessoa que povoa meus pensamentos. Uma pessoa que eu cuido como se estivesse o tempo todo do meu lado. E, por tudo isso, a tenho como alguém diferente desse amor que eu sinto pela minha vida. É como se fosse a minha segunda vida. É como se eu a quisesse proteger não pela sua fragilidade, mas pela minha. É como se eu pudesse enfrentar todos os meus desafios com mais facilidade, se essa pessoa estivesse comigo. Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo: temos todo o tempo do mundo. É como se tivéssemos todo tempo do mundo em nossas mãos.

E é só você que tem a cura do meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi... Ainda não entendo os porquês da vida. Ainda não tenho as respostas. Não estou certa disso tudo que acontece dentro de mim, porém estou percebendo que, mais do que beijos, mais do que abraços, a humanidade precisa de compreensão, precisa de afeto, precisa sentir-se amparada e incluída, precisa encontrar a sua plenitude não na independência e no individualismo, mas sim no encontro verdadeiro entre o comum. A humanidade precisa libertar-se para então se prender em suas virtudes.

Sei que faço isso para esquecer, eu deixo a onda me acertar e o vento vai levando tudo embora. Não quero ser como o vento. Não quero deixar meus melhores momentos se dissolverem através do tempo. A humanidade precisa de alguém que lhe explique sobre a terra, a água e o ar. Não quero lembranças para ter de esquecer depois. A humanidade precisa ensinar alguém sobre teatro, natação e fotografia. A humanidade precisa não só se completar, mas também aprender a amar, a olhar para o outro ao invés de permanecer estudando os cadarços do tênis novo.

Até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo e o nosso mundo. Quem roubou nossa coragem? Não vá embora. Fique um pouco mais. Ninguém sabe fazer o que você me faz.

domingo, 14 de outubro de 2007

De casa nova!


de casa nova - e agora eu trouxe a bagagem!

Pois é, agora estou aqui, no De Bagagem...com uma mentalidade mais leve sobre a vida e textos que correspondem as minhas inspirações...

Para quem quiser conferir os "anteriores", pode acessar http://www.ouseja.weblogger.terra.com.br e comentar por lá também...

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Paz e Meio Ambiente


Eu, sinceramente, sobre mim não tenho nada a declarar....
Meus dias estão corridos por causa da faculdade e da Pastoral, contudo minhas inspiração para crônicas anda um tanto fraca ultimamente, por conta de alguns acontecimentos (ou por falta de) . São minhas três paixões e uma sempre dá defeito de vez em quando.



Mas hoje estou aqui pra expressar minha alegria ao receber a notícia de que Al Gore e o Comitê Climático da ONU ganharam o Prêmio Nobel da Paz. Talvez isso não seja tão significativo para os que não se interessam muito pela causa ambiental, mas ela está tomando conta do mundo! Assistir a Uma verdade inconveniente foi esclarecedor sem ser sensacionalista, foi um alerta repleto de sugestivas soluções! Se puder, assista. E comece a fazer a sua parte! Também não posso esquecer de ressaltar a importância magma do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas... o relatório das pesquisas e conclusões elaborado por mais de dois mil cientistas de todo o planeta, que serviu de base para o filme e que tanto me auxilia nos trabalhos da faculdade...



Entenda melhor:






"Transformai uma árvore em lenha que ela arderá; mas, a partir de então, não dará mais flores, nem frutos" (R. Tagore)

OrKut.: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=6260575276686721286