quinta-feira, 25 de outubro de 2007

UTOPIA


Nunca senti tanto amor por escrever como sinto neste momento. Mesmo que eu ainda não entenda perfeitamente o que é o amor, posso afirmar que o que faço reclama pela minha atenção a todo tempo, mais minha atenção às coisas que me afeiçoam e afetam de alguma forma é rara. Às vezes me sinto escrava de devaneios infundados e me esqueço dos meus sonhos. Fecho meus olhos e mergulho na imensidão do pensamento e da ilusão. Esqueço dos meus sonhos.

Estou sentindo amor pelo que faço não por ter participado de um evento literário, não por ter visto tantas pessoas felizes com a leitura. Estou amando este instante único e efêmero, pois ele é quem sustenta meus poucos traços individuais. O ato de escrever me situa e me inebria. Faz de mim quem realmente sou. Aprisiona-me em questionamentos, porém leva-me a libertar, incondicionalmente, as minhas hipóteses.

Estou acordada e sem sono. Olho para minhas obras inacabadas, para o fim de tudo que ainda não começou. Percebo e penso em tudo que aconteceu. Talvez tenha sido um erro gravíssimo, talvez amanhã eu nem me lembre. Se hoje estou vendo em parte, um dia verei face a face.

Escrever me questiona: Por que erramos? Por onde devo andar daqui pra frente? Haverá coragem suficiente para olhar para trás e não se arrepender? Escrever me inebria: Sempre em frente, você não pode perder nada. Escrever me sustenta: Sempre há por onde andar, mesmo que você não saiba ainda onde quer chegar. Se você errou, não foi a primeira nem a última vez. Nunca erra apenas aquele que nunca faz.

Escrever me faz pensar. Mas este meu pensar nem sempre me faz agir. E esse agir, quando acontece, acontece como se às avessas. Erico Verissimo dizia que grande parte do que escrevia não se identificava com os seus pensamentos. Gladstone Osório Mársico disse que escrever é como subir em um telhado de feno, pois “poucos chegam na cumeeira sem derrubar a casa”. Viver, em meu amplo sentido, se configura nesses moldes. E é interessante perceber que os acontecimentos não planejados geralmente me trazem mais alegria do que aqueles pelos quais esperei. Então, qual é o real sentido de se sonhar? Eu sei a resposta. Você sabe a resposta. Todos nós concordamos que são eles que nos levam a enfrentar os obstáculos com mais ardor. Não estou falando de desejos, estou falando de sonhos. Desejos são manifestações imediatas, suprimidos acabam por não existir. Sonhos são todas as coisas que amamos sem precisar ter, mesmo que sejam as nossas mais infundadas utopias.

Escrever, para mim, é isso: um mar de passado que nos projeta ao futuro, assim como viemos ao mundo. Um rito de passagem que está entre o que fomos e o que ousaremos ser.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aproveite esse momento e... produza!

beijos